At 18.2 Paulo em Corinto, encontra um
casal chamado Áquila e Priscila, de origem judaica, onde a profissão dos mesmos
era semelhante, ficando com eles Paulo, ajuda no sustento do lar prestando
serviços a eles. Mas devido ao orgulho judaico e inveja referente ao ministério
de Paulo, começam aparecer rumores de que Paulo tem desprezado a lei, pregando
contra a mesma. Isso se faz notório aos ouvidos de Paulo, que junto com esse
casal se entristecem, mesmo sabendo que isso era mentira.
Como agora Paulo poderia provar a sua
inocência validando a lei de Moisés juntamente com a sua consagração e
comprimento de ambos, agora haveria uma maneira na qual, toda a estrutura
judaica se abalaria com tal prova de fidelidade a lei e aos costumes judaicos,
era o voto do nazireu conforme, sendo esse agora um argumento irrefutável,
sobre a veracidade do cumprimento da lei judaica ao pé da risca, isso ocorre em
At 18.18 “E Paulo, ficando ainda ali
muitos dias, despediu-se dos irmãos, e dali navegou para a Síria, e com ele
Priscila e Áqüila, tendo rapado a cabeça em Cencréia, porque tinha voto”.
No versículo acima, vemos o apóstolo em
um ato que chama a atenção para meditarmos nas escrituras, ele toma a decisão
de raspar sua cabeça, fazendo um pacto com o Senhor, um voto que só poderia ser
concluído ou entregue ao Senhor de acordo com a lei nazireu no templo de
Jerusalém em forma de sacrifício.
Vamos agora analisar algumas
referências bíblicas sobre outros nazireus existentes na bíblia:
Números capitulo 6 e versículos de 1 a
21 descreve-se toda a lei referente ao voto do nazireado, vamos meditar sobre
ela:
1
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E falou
o SENHOR a Moisés, dizendo:
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2
|
Fala
aos filhos de Israel, e dize-lhes: Quando um homem ou mulher se tiver
separado, fazendo voto de nazireu, para se separar ao SENHOR,
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3
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De
vinho e de bebida forte se apartará; vinagre de vinho, nem vinagre de bebida
forte não beberá; nem beberá alguma beberagem de uvas; nem uvas frescas nem
secas comerá.
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4
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Todos
os dias do seu nazireado não comerá de coisa alguma, que se faz da vinha,
desde os caroços até às cascas.
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5
|
Todos
os dias do voto do seu nazireado sobre a sua cabeça não passará navalha; até
que se cumpram os dias, que se separou ao SENHOR, santo será, deixando
crescer livremente o cabelo da sua cabeça.
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6
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Todos
os dias que se separar para o SENHOR não se aproximará do corpo de um morto.
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7
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Por seu
pai, ou por sua mãe, por seu irmão, ou por sua irmã, por eles se não
contaminará quando forem mortos; porquanto o nazireado do seu Deus está sobre
a sua cabeça.
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8
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Todos
os dias do seu nazireado santo será ao SENHOR.
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9
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E se
alguém vier a morrer junto a ele por acaso, subitamente, que contamine a
cabeça do seu nazireado, então no dia da sua purificação rapará a sua cabeça,
ao sétimo dia a rapará.
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10
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E ao
oitavo dia trará duas rolas, ou dois pombinhos, ao sacerdote, à porta da
tenda da congregação;
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11
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E o
sacerdote oferecerá, um para expiação do pecado, e o outro para holocausto; e
fará expiação por ele, do que pecou relativamente ao morto; assim naquele
mesmo dia santificará a sua cabeça.
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12
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Então
separará os dias do seu nazireado ao SENHOR, e para expiação da transgressão
trará um cordeiro de um ano; e os dias antecedentes serão perdidos, porquanto
o seu nazireado foi contaminado.
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13
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E esta
é a lei do nazireu: no dia em que se cumprirem os dias do seu nazireado,
trá-lo-ão à porta da tenda da congregação;
|
14
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E ele
oferecerá a sua oferta ao SENHOR, um cordeiro sem defeito de um ano em
holocausto, e uma cordeira sem defeito de um ano para expiação do pecado, e
um carneiro sem defeito por oferta pacífica;
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15
|
E um
cesto de pães ázimos, bolos de flor de farinha com azeite, amassados, e
coscorões ázimos untados com azeite, como também a sua oferta de alimentos, e
as suas libações.
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16
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E o
sacerdote os trará perante o SENHOR, e sacrificará a sua expiação do pecado,
e o seu holocausto;
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17
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Também
sacrificará o carneiro em sacrifício pacífico ao SENHOR, com o cesto dos pães
ázimos; e o sacerdote oferecerá a sua oferta de alimentos, e a sua libação.
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18
|
Então o
nazireu à porta da tenda da congregação rapará a cabeça do seu nazireado, e
tomará o cabelo da cabeça do seu nazireado, e o porá sobre o fogo que está
debaixo do sacrifício pacífico.
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19
|
Depois
o sacerdote tomará a espádua cozida do carneiro, e um pão ázimo do cesto, e
um coscorão ázimo, e os porá nas mãos do nazireu, depois de haver rapado a
cabeça do seu nazireado.
|
20
|
E o
sacerdote os oferecerá em oferta de movimento perante o SENHOR: Isto é santo
para o sacerdote, juntamente com o peito da oferta de movimento, e com a
espádua da oferta alçada; e depois o nazireu poderá beber vinho.
|
21
|
Esta é
a lei do nazireu, que fizer voto da sua oferta ao SENHOR pelo seu nazireado,
além do que suas posses lhe permitirem; segundo o seu voto, que fizer, assim
fará conforme à lei do seu nazireado.
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Mais duas passagens
sobre o mesmo voto podemos ler a seguir:
Juizes 13.5 “Porque eis que tu conceberás e terás um filho sobre cuja
cabeça não passará navalha; porquanto o menino será nazireu de Deus desde o
ventre; e ele começará a livrar a Israel da mão dos filisteus”.
I Sm 1.11 “e Ana e fez
um voto, dizendo: ó Senhor dos exércitos! se deveras atentares para a aflição
da tua serva, e de mim te lembrares, e da tua serva não te esqueceres, mas lhe
deres um filho varão, ao Senhor o darei por todos os dias da sua vida, e pela
sua cabeça não passará navalha”.
Como é fascinante esse voto que era
feito pelos judeus, a seguir podemos agora entender, através de um estudo
sistemático, como esse voto se dava e qual era a sua origem e importância no
comprimento total do mesmo.
O Nome
A forma mais correta da palavra é
nazireado, nazireu, embora alguns grafem, em outras línguas, nazarita. A
palavra portuguesa vem do hebraico nazir, derivada de nazar, separar, consagrar, abster-se. Além
disso, há a considerar o termo nezer, diadema, coroa de
Deus, termo algumas vezes aplicado à cabeleira não-tosquiada dos nazireus,
cabeleira essa considerada sua coroa e adorno. E dessa outra palavra hebraica
que alguns pensam que se deriva a forma nazarita. Comparar isso com I Cor.
11:15.
O nazarita ou nazireu (2), do hebraico
nazir distinguia-se do nazareno, do hebraico também neser, aplicado a Cristo em
Mt 2.23. Embora parecidas as palavras nas línguas modernas, diferem bastante no
hebraico por serem diferentes as consoantes médias. Assim, por nazireu
entendia-se todo aquele que se separava e distinguia por qualquer modo invulgar
para se dedicar a Deus, fazendo um voto especial, quase sempre por determinado
tempo. Por isso o radical hebraico implica em separação e consagração, como
podemos ver em Deuteronômio e Números 33.16, a propósito de José, que “se
separou” de seus irmãos.
O voto do nazireado envolve a
consagração especial de pessoas ou coisas a Deus (ver Gên. 49:26; Deu. 33:16).
Está especificamente em pauta o caso dos nazireus, cujos cabelos
compridos serviram de emblema de sua separação ao serviço do Senhor, cabelos
esses que eram reputados a coroa de glória deles. Ver Núm. 6:7. Comparar com II Sam. 14:25,26.
Caracterização Geral
Os nazireus formavam grupos ascéticos
no judaísmo. Eles tomavam vários votos, como abster-se de vinho, não entrar em
contacto com qualquer coisa imunda, ou não aparar os cabelos. Entre os antigos
hebreus, esses votos eram vitalícios (ver a história de Sansão). E o trecho de
Amos 2:12 sugere que os nazireus eram muito prestigiados em Israel.
A legislação posterior, entretanto,
permitia que tais votos fossem limitados quanto ao tempo (ver Josefo, Guerras 2:15,1). Mas, um elemento que nunca foi
abandonado foi o de um severo ascetismo. O voto do nazireado
aparece em Núm. 6:1-20. Ninguém podia fazer tais votos por um período inferior
ao de trinta dias. Sansão, Samuel e João Batista (de acordo com muitos
eruditos), foram nazireus vitalícios. A instituição do nazireado tinha por
intuito tipificar a separação e um modo de viver santificado e restrito. A
cabeleira crescida simbolizava a virilidade e virtudes heróicas.
As madeixas de cabelos simbolizavam uma
simplicidade infantil, poder, beleza e liberdade. Maimônides, um sábio judeu
sefardi (falecido em 1204), referiu-se à dignidade dos nazireus como
equivalente à de um sumo sacerdote. E antes dele, Eusébio, o grande historiador
eclesiástico da Igreja antiga, asseverou, em termos enfáticos, que os nazireus
tinham acesso ao Santo dos Santos, em Israel (História
Eclesiástica 2,23).
Os pais podiam dedicar seus filhos
homens a esse grupo religioso separatista. Entretanto, os nazireus não viviam
em comunidades separadas, e nem lhes era vedada a associação com outras pessoas,
ou de se ocuparem em atividades comuns. Viviam na comunidade de Israel como
símbolos de dedicação especial a Yahweh. Essa era a principal função dos
nazireus. E eles mostravam-se ativos no serviço religioso e nas práticas
ritualistas.
Origem do Nazireado
O sexto capítulo do livro de Números
fornece-nos as regras acerca da questão, embora alguns estudiosos suponham que
temos ali uma confirmação e regularização da prática, e não um começo absoluto
da mesma. É possível que, a certa altura dos acontecimentos, a prática tenha
penetrado no corpo da legislação mosaica. E os argumentos que dizem que a
prática do nazireado foi tomada por empréstimo de povos pagãos, como os
egípcios, não convencem e nem têm sido acolhidos pela maioria dos eruditos.
Provisões do Voto
O leitor deve examinar o sexto capítulo
do livro de Números. Esse voto podia variar quanto à sua duração. Podia ser
imposto às crianças, por seus pais, que as dedicavam à vida do nazireado, como
foi o caso de Sansão (ver Juí. 13:5,14), e talvez de Samuel (ver I Sam. 1:11) e
de João Batista (Luc. 1:15). A Mishna afirma que esses votos eram tomados por
um mínimo de trinta dias, e que o período de sessenta dias era o mais comum. O
voto tomado por Paulo, conforme está registrado em Atos 18:18, provavelmente foi
um voto temporário de nazireu.
Proibições. Os nazireus precisavam abster-se de vinho, de todas as bebidas
alcoólicas, de vinagre, e até de uvas e passas de uvas. A experiência humana
exibe claramente os debilitantes efeitos espirituais das bebidas alcoólicas.
Além disso, esses votos provavelmente eram um protesto contra as práticas
pagãs, onde as bebidas alcoólicas eram usadas para agitar aos adoradores,
levando-os a cometerem toda sorte de excessos. Um forte exemplo dessa adoração,
era a embriaguês exercidas pelos adoradores do deus Baco ou Bako, sendo ele
tido pelos pagãos como o deus do vinho. Essa adoração era dada através do
consumo axagerado de vinho pelos seus fiéis misturadas com muitas músicas e
batuques, originando daí o tão famoso carnaval dos dias atuais.
Mas os nazireus também não podiam tocar
em coisas imundas, como um cadáver, mesmo que se tratasse de um parente
próximo. E cumpre-nos observar que os sumos sacerdotes de Israel também não se
podiam contaminar desse modo.
Requisitos. Um nazireu não podia cortar os cabelos durante todo o tempo em que
perdurasse a sua consagração. As referências literárias mostram que os cabelos
de uma pessoa eram considerados a sede da vida, e até mesmo a habitação de
espíritos e de influências mágicas. Talvez por essa razão é que, terminado o
voto do nazireado, a pessoa precisava raspar seus cabelos e queimá-los, como
medida eficaz para anular quaisquer poderes que os cabelos fossem tidos como
possuidores.
Violação. Se os votos do nazireado fossem violados em qualquer sentido (até mesmo
por acidente, como quando um nazireu entrava em contacto com um cadáver), ele
precisava renovar todo o conjunto de ritos purificadores, e começar de novo os
seus votos.
Término. Ao fim do tempo marcado, um nazireu precisava oferecer vários
sacrifícios, cortando rente os seus cabelos e queimando-os no altar. Em
seguida, o sacerdote oficiante efetuava certos ritos determinados, e o homem
estava desobrigado de seu voto ao Senhor.
Problemas e
Modificações
Alguns estudiosos pensam que o sexto
capítulo de Números pertence à fonte informativa P.(S.), o código sacerdotal,
que pertenceria aos tempos exílicos, ou mesmo depois. Essa legislação
posterior, conforme eles supõem, permitia votos específicos relativamente
breves. Mas, mais antigamente, conforme ainda argumentam, um voto era feito por
toda a vida. Sansão e Samuel foram exemplos da prática mais antiga.
É possível que Absalão tivesse sido
posto sob esse voto, o que explicaria sua vasta cabeleira. Entretanto, Jesus
não foi um nazireu, e, sim, um nazareno (ver Mat. 2:23),
embora isso não concorde com o que dizem alguns intérpretes.
João Batista, em contraste com Jesus,
pode ter sido um nazireu verdadeiro, o que explicaria certos aspectos ascéticos
de sua vida (ver Luc. 1:15). A prática posterior entre os judeus fez com que
esse voto envolvesse apenas atividades religiosas ritualistas, conforme se via,
para exemplificar, no farisaísmo; mas isso já representava uma perversão
religiosa, que o Senhor Jesus combateu. Interessante é observar que o judaísmo
moderno está completamente alicerçado sobre o farisaísmo, embora com certas
evoluções medievais e modernas.
O nazireado era um voto feito por
pessoas que procuravam alívio para as suas enfermidades ou aflições, conforme
nos informa Josefo (Guerras, 11.15,1). Até mesmo
Berenice, a incestuosa esposa-irmã do rei Herodes Agripa, fez tal voto, segundo
Josefo menciona naquele trecho de sua famosa obra. A Mishna, Nazir V. 5, demonstra como a questão acabou se
desintegrando. De acordo com esse comentário judaico, era possível alguém tomar voto até em relação a uma
dívida assumida em uma aposta. As informações dadas por Josefo mostram-nos que
os nazireus constituíam uma característica comum na vida judaica de seus dias.
Nazireado e o
apóstolo Paulo
Atos 18:18: Paulo, tendo ficado ali ainda muitos dias, despediu-se dos
irmãos e navegou para a Síria, e com ele Priscila e Âquila, havendo rapado a
cabeça em Cencréia, porque tinha voto.
Este voto foi feito pelo próprio Paulo,
inicia-se aqui neste versículo, raspando a cabeça, Paulo está declarando a
todos que o seu foto iniciou-se, isso teria um grande efeito sobre a cupola
judaíca em Jerusalém que estava julgando ele como um herege, ou apóstata da fé,
devido rumores espalhados por toda a província.
Josefo, grande historiador judeu do
tempo apostólico, informa-nos de que o voto do nazireado se completava quando
os cabelos eram raspados. (Ver também Núm. 6:5,18). Assim diz Josefo (ver Guerras dos Judeus, II. 15:1): Aqueles que sofrem de alguma
enfermidade, ou que de alguma outra maneira caem em infortúnio, costumeiramente
fazem um voto de que, por trinta dias, antes de oferecerem algum sacrifício,
abster-se-ão de vinho, e de rasparem a própria cabeça.
Ora, se essa norma foi seguida por
Paulo, isso significaria que o apóstolo estava então iníciando um período de
dias, durante o qual Paulo não tornaria a cortar os cabelos. Mais tarde o
apóstolo remiria o seu voto, oferecendo o sacrifício apropriado, no templo de
Jerusalém, no desenrolar da festa da páscoa.
Em Atos 21:15-26, podemos entender
melhor como se encerraria o voto do nazireu, quase no final da sua segunda
viagem Paulo faz esse voto, e vemos depois disso a sua pressa em chegar logo a
Jerusalém para entregar o seu voto como sacrifício:
15
|
¶ E
depois daqueles dias, havendo feito os nossos preparativos, subimos a
Jerusalém.
|
16
|
E foram
também conosco alguns discípulos de Cesaréia, levando consigo um certo
Mnasom, cíprio, discípulo antigo, com quem havíamos de hospedar-nos.
|
17
|
E, logo
que chegamos a Jerusalém, os irmãos nos receberam de muito boa vontade.
|
18
|
E no
dia seguinte, Paulo entrou conosco em casa de Tiago, e todos os anciãos
vieram ali.
|
19
|
E,
havendo-os saudado, contou-lhes por miúdo o que por seu ministério Deus
fizera entre os gentios.
|
20
|
E,
ouvindo-o eles, glorificaram ao Senhor, e disseram-lhe: Bem vês, irmão,
quantos milhares de judeus há que crêem, e todos são zeladores da lei.
|
21
|
E já
acerca de ti foram informados de que ensinas todos os judeus que estão entre
os gentios a apartarem-se de Moisés, dizendo que não devem circuncidar seus
filhos, nem andar segundo o costume da lei.
|
22
|
Que
faremos pois? em todo o caso é necessário que a multidão se ajunte; porque
terão ouvido que já és vindo.
|
23
|
Faze,
pois, isto que te dizemos: Temos quatro homens que fizeram voto.
|
24
|
Toma
estes contigo, e santifica-te com eles, e faze por eles os gastos para que
rapem a cabeça, e todos ficarão sabendo que nada há daquilo de que foram
informados acerca de ti, mas que também tu mesmo andas guardando a lei.
|
25
|
Todavia,
quanto aos que crêem dos gentios, já nós havemos escrito, e achado por bem,
que nada disto observem; mas que só se guardem do que se sacrifica aos
ídolos, e do sangue, e do sufocado e da prostituição.
|
26
|
Então
Paulo, tomando consigo aqueles homens, entrou no dia seguinte no templo, já
santificado com eles, anunciando serem já cumpridos os dias da purificação; e
ficou ali até se oferecer por cada um deles a oferta.
|
A origem da prática do voto do
nazireado é anterior aos tempos de Moisés,
e para nós é obscura.
Sabemos, entretanto, que os semitas e
outros povos antigos não cortavam os próprios cabelos e nem faziam a barba
quando tinham de ocupar-se de alguma questão importante, o que servia de sinal
de que solicitavam a ajuda divina. Posteriormente ao período de voto, porém, os
cabelos eram raspados, sendo queimados em algum lugar sagrado, como uma oferta
a Deus ou aos deuses. Entre as tribos árabes até hoje há reflexos desse
antiquíssimo costume. (Ver A. Lods, Israel, 1932, pág. 305.
Examinar também o trecho de Juí. 5:2).
Séculos mais tarde, esse voto veio a
significar alguma consagração especial a Deus, o que, evidentemente, podia
perdurar por muitos anos, embora também pudesse envolver um período mais curto
de tempo, dependendo da intenção com que um voto fosse feito. Alguns indivíduos
se tornavam nazireus por toda a vida, como se deu no caso de Sansão, que foi
consagrado como tal desde o berço. (Ver Juí. 13:5,6). Samuel, mais ou menos da
mesma maneira, ainda que seu voto não envolvesse a abstinência de vinho,
ocupava a mesma posição de nazireu. (Ver I Sam. 1:11). João Batista também
cumpriu o espírito desse voto, posto que, aparentemente, o seu compromisso não
envolvia a necessidade de deixar os cabelos crescerem perpetuamente, sem
cortá-los. Ver Luc. 1:15.
De fato, os nazireus representavam
simbolicamente aquilo que é exigido, em termos espirituais, de todos os crentes
(excetuando os símbolos físicos), visto que todos os crentes no Senhor Jesus
devem apresentar-se como um sacrifício vivo, santo e
agradável a Deus (Rom. 12:1).
Quando da conclusão do voto do
nazireado, contanto que esse não fosse fixado para a vida terrena inteira, os
devotos ofereciam um sacrifício pelo pecado, uma oferta queimada (o que
subentendia a sua autodedicação) e uma oferta pacífica, juntamente com pães
asmos. (Este último aspecto fala de ação de graças por parte do ofertante).
No trecho de Atos 21:24-27 vemos uma
alusão a um voto de nazireado estrito. Paulo, por ser caridoso, resolveu arcar
ele mesmo com as despesas das ofertas, a fim de mostrar o seu respeito pela lei
mosaica. No entanto, o voto que encontramos no trecho presente, Atos 18:18,
provavelmente foi um voto de nazireado um tanto ou quanto modificado, ainda que
alguns intérpretes opinem que talvez tivesse pertencido a outro tipo de voto,
talvez uma espécie de oferta de ação de graças pelo que Deus realizara por seu
intermédio, em Corinto, pelo sucesso da obra
evangelizadora naquela cidade e pela proteção com que Deus o resguardara em
segurança, fora do alcance de todos os seus adversários. Bem poderíamos
imaginar que Paulo reiterou sua dedicação a Cristo mediante essa ação,
esperando que lhe fossem conferidas outras oportunidades de trabalhar com êxito
na causa do Senhor.
Nem mesmo durante o concilio de Jerusalém se tomou qualquer providência de
proibir aos judeus de expressarem a sua adoração sob formas judaicas; meramente
os crentes gentílicos foram liberados de tais obrigações religiosas, não lhes
tendo sido imposta essa carga que pesava sobre os ombros dos judeus. Por sua
vez, nada existe de mais evidente, em todo o livro de Atos, do que o fato de
que até mesmo os apóstolos de Cristo continuaram observando os ritos judaicos,
bem como as cerimonias e os costumes próprios do judaísmo. Não se há de duvidar
que a maior parte de todos os primitivos cristãos judeus assim fazia. Aqueles
eram os costumes religiosos consagrados pelo tempo, e foi mister passarem-se
muitos e muitos anos, até que tais práticas fossem descontinuadas pelos
cristãos.
Portanto, não há razão alguma em
supormos que Paulo fez qualquer coisa errada neste ponto; antes, fez aquilo em
um espírito autêntico de adoração e de consagração, numa atitude de suprema
dedicação a Cristo, ainda que seguisse algumas formas externas antigas para
expressar esse zelo. (Ver as notas expositivas acerca do caráter judaico da primitiva igreja cristã, em Atos
2:46 e 3:1 no NTI).
Alguns estudiosos têm procurado
inocentar Paulo de seu suposto lapso ou culpa, afirmando que Ãquila, e não
Paulo, é quem teria feito o voto. Mas isso não passa de uma tentativa desnecessária
de evitar a realidade. Pelo contrário, a verdade é conforme diz Robertson (in loc): Paulo, sendo um judeu, guardou essa observância da
lei cerimonial judaica, embora se recusasse a impô-la aos gentios.
Naturalmente isso não quer dizer que o
apóstolo Paulo tenha continuado a observar a grande multidão de observâncias e
requisitos cerimoniais do judaísmo de seus dias; pois é óbvio que ele não agia
dessa maneira. Mas antes, ocasionalmente, ele fazia algo dessa natureza,
visando algum propósito específico.
O VOTO DOS NAZIREUS
Nm 6.1-21
A maneira como a questão se apresenta
leva-nos a supor que se trata duma instituição já existente, uma vez que se
acentua a diferença entre nazireus e não nazireus. Quanto à duração do voto,
não sabemos de qualquer israelita que se tenha obrigado a ele durante a vida
inteira. O caso de Sansão (Jz 13-16) é diferente, por não se tratar dum voto
propriamente dito, mas duma obrigação que lhe foi imposta ainda antes de nascer
e que o vinculava para sempre (Jz 13.5,7,13-14). Mas não era este o caso da
maioria dos autênticos nazireus, embora certos aspectos fossem semelhantes.
Para o Cristão é de certa utilidade
esta doutrina por considerar as suas relações com tudo o que em si não é
pecaminoso, mas pode trazer obstáculos ao progresso da vida espiritual (Hb
12.1). A vida espiritual de certas pessoas pode ser muito avançada por eles
absterem-se de algumas coisas que não são más em si mesmas. Ao mesmo tempo, nem
sempre se podem forçar aqueles que desejam servir ao Senhor a fazerem votos que
não podem cumprir, com prejuízo certo para as suas almas. Lembremo-nos da
corrupção que grassava nos conventos medievais, e cujas conseqüências funestas
ainda hoje se sentem. Deus quer que todos os Seus servos encarem a vida
espiritual como coisa normal.
Condições para o voto
do nazireu (Nm 6.1-8).
O vers. 2 define o voto do nazireu, que
o homem ou a mulher podem fazer voluntariamente, separando-se por determinado
tempo, a fim de se consagrarem ao serviço militar do Senhor. Os nazireus eram
comparados com o sumo sacerdote por se separarem até de coisas mortas. (Lv
21.1-3,10-11).
Nem o amor da família o levaria a
faltar a tal obrigação. Não é que fosse pecado tocar nos cadáveres. Em certos
casos mesmo era um sinal de respeito, pois havia entre os judeus quem pensasse
que tinha feito uma coisa santa em tocar num cadáver para dar a alguém uma
sepultura decente. Foi este princípio que originou o livro apócrifo de Tobias.
Mas ao nazireu exigia-se-lhe que de livre vontade se abstivesse desta forma de impureza,
mesmo que se tratasse de membros de sua família. Enquanto separado e a Deus
consagrado, devia permanecer santo e puro para com dignidade se dedicar ao
Culto do Senhor.
Penas destinadas às
infrações involuntárias (Nm 6.9-12).
Não se fala da infração às duas
primeiras obrigações, de que falamos, por constituírem sempre um ato voluntário
e serem, portanto, inadmissíveis. A possibilidade de alguém morrer junto dum
nazireu é que o tornaria impuro legalmente, mesmo contra a sua vontade. Neste
caso ficaria sujeito às mesmas prescrições que tornavam impuro qualquer
israelita (Nm 19) e, além disso, ao sétimo dia cortaria o cabelo e iria ao
Santuário oferecer duas rolas ou dois pombinhos para sua purificação (Lv 15.14)
e, como expiação da culpa, um cordeiro. O pior era o tempo do seu voto que
seria descontado, tendo de recomeçar, como se nada houvesse.
Esta lei parece-nos demasiado severa
para quem não cometia qualquer erro voluntariamente. Mas a santidade de Deus
exige também que sejam santos todos os que se dedicam ao Seu serviço, de forma
a evitarem toda e qualquer espécie de pecado ou impureza que os possa macular.
Purifiquemo-nos, pois, da melhor maneira para que no serviço do Senhor tudo
seja puro e santo.
Como finda o voto do
nazireu (Nm 6.13-21).
Através do vers. 13 fácil é
compreender-se que o voto do narizeu terminava após um determinado período,
seguido duma série de cerimônias que davam a entender quem era ou não nazireu.
Começavam à porta da tenda da congregação e exigiam as oferendas descritas nos
vers. 14-15. Após o ritual a que presidia o sacerdote (16-17), ainda à porta da
mesma tenda o nazireu cortava o cabelo, que era queimado no próprio fogo do
sacrifício. Nada podia guardar como prova da sua consagração anterior. Novas cerimônias
levadas a cabo pelo sacerdote (19-20) indicavam que o nazireu estava dispensado
de todas as restrições que tinha imposto a si próprio.
O vers. 21 conclui numa espécie de
título, aludindo ao sacrifício do nazireu, e frisando que esse sacrifício deve
exceder o que a lei normal prescreve. É o que dá a entender a expressão
idiomática “além do que alcançar a sua mão”.
O voto de nazireado (ou nazireato), foi
institucionalizado e regulamentado na Torá no Livro de Números 6:1-21. Em virtude desta consagração, o nazireu devia abster-se de tomar
certos alimentos e bebidas fermentadas, de cortar o cabelo e tocar em
cadáveres. Estas exigências particulares parecem traduzir os seguintes
princípios: manter-se mentalmente são (“abster-se de vinho e de bebida
fermentada”) e em sujeição a Deus (simbolizado pelo não cortar o cabelo) e manter-se cerimonialmente puro
(não tocar em cadáveres).
Após a conclusão do seu voto, o nazireu
realizava o ritual de purificação e fazia três oferendas no Santuário. Um voto
dito “à semelhança de Sansão” era um voto para toda a vida.
Nazireus no
cristianismo
João Baptista teria sido também um nazireu, embora o Novo Testamento nunca se refira a ele usando diretamente este termo. O seu estatuto de
nazireu deduz-se devido ao seu estilo de vida ascético; em Lucas 1:15 o anjo informa a Zacarias,
pai de João, que a sua mulher dará à luz um filho que “não beberá vinho nem
bebida alcoólica”.
O apóstolo Paulo, junto com outros cristãos, fizeram também um voto
temporário de nazireato. (Atos 18:18; 21:23-26).
Este tipo de consagração é considerado
pelos teólogos católicoscomo modelo precursor do monasticismo cristão. Já outras denominações
cristãs, encaram-no como precursor do ministério religioso por tempo integral.
Nos dias de hoje
Nos dias de hoje Deus está de fato
levantando uma geração de ”nazireus”. Homens e mulheres, crianças, jovens e
velhos, pessoas dispostas a serem propriedade exclusiva de Deus. Separados para
Ele em santidade. Em 1 Pedro 2:9, lemos: “Mas vós sois geração eleita, o
sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as
virtudes daquele que vos chamou das trevas para Sua maravilhosa luz .”
Os requisitos impostos aos nazireus
tinham significado e sentido especial na adoração de Deus. Iguais ao sumo
sacerdote que, por causa do seu cargo sagrado, não devia tocar em cadáver, nem
mesmo de seus parentes mais chegados, tampouco os nazireus o deviam fazer.
Proibia-se ao sumo sacerdote e aos subsacerdotes, por causa da séria
responsabilidade dos seus cargos, beber vinho ou bebida inebriante ao
realizarem seus deveres sagrados perante Deus. – Le 10:8-11; 21:10, 11.
O Significado
Espiritual
Através de Jesus, Deus separou para si,
um povo para manifestar Seu caráter, Sua santidade. Os “nazireus” de hoje são
pessoas que vão muito além das palavras e das aparências. São pessoas que vivem
e buscam verdadeiramente a santidade e a presença de Deus.Os nazireus não podiam:
1- Beber vinho: Os nazireus de hoje,
são pessoas que não se envolvem e não se iludem com a alegria passageira que o
mundo oferece; O nosso prazer não está nas coisas deste mundo, não está no amor
humano, não está na religião, no sexo ou nas drogas. O que verdadeiramente nos
satisfaz é poder estar na presença do Senhor gerando um sorriso nos Seus
lábios; 1 Jo 2.15 “Não ameis o mundo,
nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele”.
2- Ter contato com cadáveres: A morte
fala de separação. E a Bíblia nos diz que o salário do pecado é a morte. Os
nazireus de hoje são pessoas que não se contaminam com o pecado, não se deixam
influenciar por outras pessoas que vivem em pecado, por mais próximas e
influentes que estas pareçam ser. Ou seja, não nos contaminamos com o pecado
nem mesmo que seja por causa dos nossos pais. Temos tristes exemplos disso
quando vemos jovens cristãos bebendo ou jogando cartas, truco, por exemplo, só
porque estão com seus pais em uma ocasião em que estão reunidos. Abrem mão de
sua santidade por alguns momentos para tentar agradar a família, Rm 8.8 “Portanto, os que estão na carne não podem agradar a
Deus”.
Os que realmente se separam para Deus,
têm necessidade de permanecerem em comunhão com o Espírito Santo e de
obedecerem ao Senhor.
3- Cortar o cabelo: Os nazireus de hoje
têm atitudes externas que mostram que são diferentes. São diferentes no seu
modo de falar, de se vestir, de agir, de se relacionar com outras pessoas. São
verdadeiros adoradores que adoram a Deus com todo o seu ser: espírito, alma e
corpo. Eles exteriorizam o que sentem quando adoram ao Senhor no levantar das
mãos, nos saltos de alegria, nos brados e nos dons espirituais, Jo 4.23 “Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros
adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais
que assim o adorem”.
Mas não fica apenas limitado ao culto
dentro da igreja, mas a sua santidade se evidencia no dia-a-dia, os homens
percebem que são diferentes porque os nazireus continuam honrando ao Senhor em
todas as suas atitudes diárias, no trabalho, na escola, em casa, na rua, em
qualquer lugar.
Eles eram exemplos para o povo de
Israel. Eles conviviam com o povo de Deus diariamente, mas eram diferentes. Com
isso, entendo que o Senhor está despertando a nossa geração para ser exemplo
não para o mundo apenas, mas principalmente para o Seu próprio povo. Devemos em
nossa vida ser Exemplos em Santidade e Exemplos em Adoração.
Henrique Carezia